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Ainda falando sobre o início da atividade de uma unidade franqueada, considero importante abordar também os aspectos, digamos, subjetivos que envolvem a relação de franquia. Isto porque, objetivamente, cumprir o que foi contratado é o que, no mínimo, se espera quando se começa algum negócio, entretanto, não se resume somente a isso.

A bem da verdade vários outros fatores têm igual ou maior relevância neste tipo de relacionamento e, em virtude disso, a forma como o iniciamos pode fazer também uma grande diferença, ou quem sabe determinar o sucesso ou fracasso dessa nova empreitada.

Até efetivamente iniciar-se a operação, ambas as partes não têm a exata noção de que como se comportará a outra, afinal é o convívio que demonstrará quem de fato é cada um. Raras são as pessoas que se mostram como são desde o início e mesmo aquelas que o fazem, podem variar o temperamento diante das variadas situações que todos estamos sujeitos quando decidimos trilhar novos caminhos.

A rigor se preparar para o sucesso, para o resultado positivo é fácil, penso que todos já nascemos com essa preparação. Mas enfrentar dificuldades e situações adversas exige muitas vezes paciência, maturidade, jogo de cintura e isso, posso afirmar, infelizmente, não é privilégio de todos.

Às vezes, simplesmente gerir a atividade pode ser estressante. São funcionários, clientes, fornecedores, compras, mercadorias com defeito, falta de produtos, contas a pagar, problemas de fluxo de caixa, enfim mil motivos que podem e necessariamente afetam o humor e o modo de ser das pessoas que, obviamente, reagem de formas distintas aos estímulos sofridos.

Além disso, na relação que se desenvolve entre franqueador e franqueado, como em qualquer outra, existem vários estágios. No início, o franqueado se considera incapaz. Busca apoio, aprendizado, treinamento e orientação. Espera que o franqueador o conduza pelo caminho certo. Nenhum problema se o relacionamento é estabelecido com um franqueador preparado, experiente, que sabe realmente conduzir seus seguidores. Neste momento, as questões surgem quando essa expectativa do franqueado se frustra e ele percebe que aquele que deveria ser o seu “mentor”, na realidade, tem pouco ou quase nada a oferecer.

A criação de uma boa e salutar convivência está justamente no desenvolvimento da relação, observando atentamente todos os estágios que ela atravessará até se tornar estável. Por isso, no início é muito importante que as partes procurem estabelecer entre si a confiança, pois a transparência é fundamental para que todos fiquem mais confortáveis ao se relacionarem.

E mais. Como já comentei aqui ao tratar dos contratos de franquia e que costumo repetir exaustivamente ao longo de todos os anos que convivo com diversos e distintos sistemas de franchising¸ muito mais importante que contratos bem estruturados e bem formatados juridicamente, onde os direitos e obrigações das partes se encontram bem delineados, está o relacionamento.

Contratar, assumir obrigações, se comprometer com quem não lhe inspira confiança, com quem não é transparente em suas atitudes, pode, literalmente, por tudo a perder. Começar um negócio esperando apoio, suporte, parceria e, em troca, receber um comportamento evasivo, sem comprometimento com o resultado, pode destruir o melhor e mais bem redigido contrato.

O franqueado inicia seu negócio cru e este é o momento que mais precisa ter o franqueador ao seu lado. Para o franqueador, é neste estágio, quando o franqueado demanda sua atenção, quando necessita de seu apoio para existir naquela atividade, que ele pode demonstrar o quanto é importante a sua presença, a sua referência para o sucesso do empreendimento recém iniciado.

Sim, pois, com o desenvolvimento da relação, na sua evolução natural, haverá o momento em que o franqueado se tornará (ou pelo menos pensará que se tornou) autossuficiente e passará a crer que sabe tudo, ou pelo menos que sabe mais que seu franqueador. Não que ele efetivamente seja, ou que em algum momento o franqueador deixe de ser importante nessa relação, porque nas franquias sólidas isso nunca acontece. Mas tal percepção, invariavelmente, faz parte do processo gradual pelo qual se desenvolve esse tipo de contratação.

E é nesse momento, quando uma das partes acredita sinceramente que não precisa da outra (por mais equivocada que esteja) que a lembrança do bom início, a parceria e confiança conquistadas lá no começo de tudo, quando a dependência era total é o que fará a diferença e embasará a continuidade e maturidade da relação.