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No dia 11 de agosto, fiz a minha primeira live no Instagram para falar sobre o cenário atual e as tendências do mercado de franquias de um Brasil, que tem avançado na vacinação. Aliás, esse foi o tema da live: A Retomada das Franquias num Brasil Vacinado.  

Abaixo, alguns dos pontos da nossa conversa, que foi mediada por Rodrigo Ganem e Silvio de Sá, ambos da agência Socialógica.

Rodrigo Ganem: Ana, como você entrou e se especializou em franquias?

Ana Von Jess: Comecei no segmento de franquia em 1997, quando comecei a trabalhar no setor jurídico da De Plá, com o Daniel Plá. Com ele, passei a atuar no setor de franquias, gerenciando o departamento jurídico da empresa. Todos conhecem a minha dedicação e admiração ao Daniel Plá. 

A rede tinha em torno de 100 unidades, uma franquia do Rio de Janeiro em um momento em que o mercado fotográfico estava explodindo. Chegamos a 150 lojas. 

Aquilo tudo foi um laboratório precioso, com o que deveria e não deveria ser feito. Quando olho para trás, vejo muitos pontos na contratação de sistemas de negócios que foram concebidos de forma equivocada e levaram a empresa a ter problemas depois. Para mim, foi literalmente um laboratório ter começado na De Plá. Depois disso, nunca mais parei.

Após algum tempo, eu me aproximei da ABF – Associação Brasileira de Franchising, fui diretora jurídica adjunta e executiva, durante 10 anos, da seccional do Rio de Janeiro.

Eu me sinto muito próxima do sistema de franquia. Posso dizer que 90% da minha clientela são formados por franqueadores e franqueados.  Sou o jurídico de algumas franqueadoras e também atendo muitos franqueados. Afinal, temos muito mais franqueados do que franqueadores no mercado.

As demandas surgem e partem bastante dos franqueados. A franqueadora quando trabalha bem, com uma relação de parceria e transparência com seus franqueados, evita uma série de problemas.  Eu, particularmente, prezo muito por esse tipo de relacionamento […]. Aqui no escritório, por exemplo, como o jurídico das franqueadoras, atuamos de forma preventiva, o que é muito importante. Ao fazer a gestão dos seus contratos de franquia já no início de tudo, você elimina os possíveis conflitos. A chance de você não ter problema  e seguir com um relacionamento saudável e equilibrado é muito maior.

É com este norte que a gente sempre trabalha. Óbvio que existem litígios e atuamos neles também, mas essa não é a nossa intenção. Temos hoje um judiciário assoberbado. Então, procuramos sempre gerir o relacionamento entre as partes. É trabalho de gestão de relacionamento porque franquia é 90% relacionamento. O contrato é um detalhe que se você for bem-feito, você deixa na gaveta e não usa. O que precisa ser gerido é o relacionamento entre franqueador e franqueados.

RG: Ana, como tem sido esse período de pandemia, desde março de 2020, para o setor de franquias?

Ana Von Jess: Não foi fácil para ninguém. O sistema de franquia cresce muito mais que o PIB da nossa economia, mas é um sistema que sentiu bastante os efeitos da pandemia. Não há como a gente dizer que as franquias passaram incólumes a isso tudo. Houve uma queda de 10% de faturamento das redes de franquia, segundo pesquisa da ABF. E muitas lojas fecharam. Eu até tenho uma estimativa – algo em torno de 4.000 estabelecimentos fecharam no Brasil.

O que a gente percebe é que as empresas, que já vinham de condições complicadas, não conseguiram sobreviver. Foi uma espécie de pá de cal para quem já não estava bem.  O sistema de franquia é resiliente, sabe inovar. Então, o que a gente percebeu neste pouco mais de um ano e meio foi uma necessidade de reinvenção das franquias diante das oportunidades: quem não trabalhava com delivery, passou a fazer do dia para a noite; quem não trabalhava com entrega, teve que inventar um esquema e quem não conseguiu se adequar à nova realidade, não sobreviveu.

A pesquisa feita pela ABF compreende o período até o final de 2020. Portanto, não chegou a mensurar as restrições que tivemos em 2021. A retomada de fato ainda não aconteceu e, talvez, não aconteça até o fim do ano, como foi estimado e desenhado pela pesquisa. Esse período de pandemia é um período de incerteza. Não pensávamos no ano passado, quando voltamos com as atividades, que teríamos novas restrições neste ano. Em 2021, quase todo o Brasil viveu restrições; alguns estados ainda vivem.

RG: Quais setores de franquias sofreram mais?

Ana Von Jess: Hotelaria, eventos, turismo, bares e restaurantes. Quem dependia da presença física das pessoas – nós vimos aqui, no Rio de Janeiro, o sofrimento retratado pelos bares e restaurantes. Você não consegue reverter uma operação de bar, de atendimento presencial, quando o público busca a experiência de estar no local. Você sai para tomar um chopp, você não quer o chopp delivery. Você quer estar naquele local, com os seus amigos.

A hotelaria também sofreu bastante e os eventos ainda não voltaram. Quem vive disso ainda está com muitos problemas. Não é um segmento comum na área de franquias. Por isso, tenho poucos números. Como já falamos, o turismo também foi muito afetado. Percebemos que as pessoas estão investindo em viagens dentro do Brasil. São setores que estão se restabelecendo, mas sofreram bastante e, talvez, demore um pouco mais a se recuperarem.

Silvio Luis de Sá: Ana, em seus artigos no blog, você sempre procura ser otimista com relação ao mercado de franquias. Recentemente, você abordou as novas oportunidades que surgiram em meio à pandemia. Uma delas, no setor de alimentação, com as redes exclusivamente voltadas ao delivery, como as hamburguerias. Você acha que isso é uma tendência?

Ana Von Jess: Vocês repararam que a crise foi implacável para quase todos os setores. Quando eu falo “quase” é porque eu penso exatamente nesse setor. Tenho clientes que trabalham comigo que explodiram durante a pandemia:  explodiram em vendas, em número de interessados e em faturamentos. Tenho redes que nasceram na pandemia e começaram com uma lojinha tímida, foram trabalhando o delivery e abriram outras unidades de delivery na cidade. Aproveitaram o momento para fazer boas parcerias com os aplicativos de entrega, que fazem toda a diferença nesse mercado de delivery. Ter boas negociações, boas contratações, boas condições comerciais como destaque dentro do aplicativo fazem a diferença nesse segmento.

Delivery de hambúrgueres e pizzas explodiram na pandemia. Como eu já falei, tenho alguns exemplos aqui de redes que trabalham conosco. Há quem tenha começado, em 2019, tímida, com a franquia já formatada e hoje possuem três marcas e estão explodindo com a abertura de novas lojas. Quem tinha dinheiro e se manteve capitalizado neste período, teve as grandes oportunidades.

Gente,  é isso. No próximo artigo, vou trazer mais sobre a nossa conversa na live do dia 11 de agosto. E se você se interessa pelo setor de franquias, baixe de graça o meu livro Franchising no Brasil. Tudo o que você precisa saber.

Abraços e até mais.